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Precisamos falar de Institutos Federais

Notícia

O senso comum, afetado cotidianamente pela mídia, não traduz as reflexões necessárias ao fazer educacional. Por isso, é preciso fazê-las sempre que possível e em todos os espaços que nos forem assegurados.

Às famílias da elite econômica e intelectual brasileira é permitido colocar seus filhos em escolas de melhor qualidade e aos mais vulneráveis, pobres e afastados dos grandes centros urbanos apenas se disponibiliza aquilo que sobra do sistema: escolas sem condições, professores mal remunerados, infraestrutura precária, entre outros problemas críticos. Isto significa que falamos de uma lógica excludente que perpassa a educação de forma geral no Brasil, desde a educação básica até a superior, na escola pública ou privada (que tolera os pobres, quando imbuída de seu espírito altruísta, e lhes oferece uma bolsa de estudos que permite a eles ter o mesmo tipo de formação que os ricos). Essa racionalidade se constrói no senso comum de que todos teriam o mesmo ponto de partida, o mesmo incentivo e condições financeiras, o mesmo estímulo e a mesma alimentação, o mesmo tipo de cama para ter um sono reparador e o mesmo atendimento de saúde e, sendo assim, o acesso à educação dependeria unicamente do mérito individual do estudante e a permanência na escola seria fruto exclusivo da vontade pessoal e do desejo de ascender socialmente.

As histórias de superação que a mídia tradicional apresenta todos os dias acabam por se prestar a um desserviço, uma vez que estimulam a visão romantizada de que a mobilidade social é privativa do cada ser humano e que a ele se devem todos os sucessos ou fracassos. Se observarmos a evolução da educação profissional no Brasil, podemos perceber as falácias de raciocínios como esse.

De 2003 a 2016, sob os governos Lula e Dilma, a Educação Profissional se transformou e revolucionou o cenário educacional brasileiro. A criação dos Instituto Federais (IFs) e a expansão da Rede Federal trouxe novas perspectivas para a sociedade brasileira, levando para o interior do país ensino médio integrado ao técnico, gratuito e de qualidade, assim como o tão sonhado ensino superior das ‘federais’. Para muitas das famílias que hoje tem seus filhos em instituições como essas, essa é talvez a única chance de qualificação e, possivelmente, de mobilidade social, que elas terão. As histórias de transformação são inúmeras e emocionantes. E é por essas histórias e pelo que elas representam que precisamos falar sobre a Educação Profissional e os Institutos Federais.

A Educação Profissional no Brasil historicamente esteve vinculada a formação de mão de obra para sustentar a hegemonia do mundo capitalista. Vista como uma modalidade de segunda categoria, para onde eram encaminhados aqueles que não dispunham de intelecto, ‘vontade’ ou mesmo condições financeiras. No mundo inteiro esse movimento foi bastante semelhante. 

A grande revolução realizada no interior do país com a criação dos Institutos Federais nos aponta que é possível resgatar o prestígio do ensino técnico e profissional. Investir na qualificação de professores, na interiorização das instituições, garantir que ensino, pesquisa e extensão andem juntas no atendimento aos arranjos produtivos, sociais e culturais locais, são questões básicas para garantir o direito à educação de todos os brasileiros e brasileiras e não apenas daqueles que moram em grandes cidades ou que podem pagar por um ensino de maior qualidade.

Os indicadores nos mostram que esse modelo pode ser uma alternativa ao ensino médio e ao ensino superior tradicionais: as melhores notas no ENEM e no PISA, avaliações de cursos e instituições excepcionais, fazendo com que estejamos em pé de igualdade com as universidades, pesquisa e desenvolvimento tecnológico de ponta para a solução de problemas reais. Em dez anos de criação, tudo isto já é visível e concreto.

A Rede Federal de Educação Profissional, contudo, vive um momento de profunda insegurança, talvez sem paralelo na sua história. Cortes orçamentários e sucateamento das instituições, visão governamental restrita sobre o papel dos Institutos Federais, desmonte de outras políticas públicas que sustentaram a criação dos IFs, reforma administrativa que ameaça os direitos de professores e técnicos administrativos, isso tudo em um dos mais brutais governos da história recente do país. Já foi possível resistir anteriormente, porém o nível de ataque por parte do MEC e outros governos alcançou outro patamar.

Estrategicamente, só há uma forma de continuar resistindo: falar e falar sobre os Institutos Federais. Usar todos os espaços possíveis para que a revolução educacional que tomou conta dos rincões do país através dos campi dos Institutos Federais seja reverberada constantemente. Por isso, é preciso falar de Institutos Federais. Por isso, é preciso contar as histórias que foram impactadas por essa política pública dos governos Lula e Dilma. Por que falar de IFs é falar do direito básico à educação, do respeito à diversidade e do desenvolvimento com liberdade.

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Autor(a)

Cláudia Schiedeck

Docente de magistério superior aposentada do Instituto Federal do Rio Grande do Sul


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